**A História de Davi e o Censo: 1 Crônicas 21**
Era uma época de grande prosperidade para o reino de Israel. Davi, o rei escolhido por Deus, havia consolidado seu trono após anos de batalhas e desafios. Ele havia derrotado os filisteus, os moabitas, os sírios e muitos outros inimigos que se levantaram contra o povo de Israel. O Senhor estava com Davi, e sua mão poderosa o guiava em todas as suas conquistas. No entanto, mesmo os homens mais fiéis podem ser tentados pelo orgulho e pela autossuficiência. E foi nesse contexto que uma sombra de pecado pairou sobre o coração de Davi.
Certo dia, enquanto o rei descansava em seu palácio em Jerusalém, um pensamento começou a inquietar sua mente. Ele olhou para o seu reino, para os exércitos poderosos que haviam sido levantados, para as cidades fortificadas e para o povo numeroso que habitava a terra. E, em vez de atribuir toda essa glória ao Senhor, Davi começou a se orgulhar da força e do poder que possuía. Ele pensou consigo mesmo: “Quantos homens há em Israel? Quantos soldados posso contar para fortalecer ainda mais o meu reino?”
Foi então que Davi chamou Joabe, o comandante do seu exército, e ordenou: “Vá por todas as tribos de Israel, desde Dã até Berseba, e conte o povo. Quero saber quantos homens há em Israel que podem empunhar armas.” Joabe, um homem experiente e leal, ficou perplexo com a ordem do rei. Ele sabia que contar o povo era um ato que poderia desagradar ao Senhor, pois a força de Israel não estava nos números, mas na bênção de Deus. Joabe respondeu: “Que o Senhor multiplique o seu povo cem vezes mais do que já é! Mas, ó rei, meu senhor, por que o senhor deseja fazer isso? Por que trazer culpa sobre Israel?”
Mas Davi, cego pelo orgulho, insistiu. Ele não ouviu o conselho de Joabe e ordenou que o censo fosse realizado. Joabe, então, partiu com seus homens e percorreu toda a terra de Israel, contando o povo. Ele começou pela região de Gade, passou por Jazer, atravessou Gileade e chegou até a terra dos taanitas e dos sidônios. Depois, foi para o sul, até Berseba, contando todos os homens capazes de lutar. O censo levou meses para ser concluído, e quando Joabe retornou a Jerusalém, ele apresentou o relatório ao rei: “Em Israel há um milhão e cem mil homens que podem empunhar espada, e em Judá, quatrocentos e setenta mil.”
No entanto, o coração de Davi ficou pesado após ouvir os números. Ele percebeu que havia pecado gravemente contra o Senhor. Aquele censo não era apenas uma contagem de homens; era um ato de desconfiança na provisão de Deus. Davi havia colocado sua confiança na força humana, e não no poder divino. Ele se arrependeu profundamente e clamou ao Senhor: “Pequei gravemente ao fazer isso. Agora, ó Senhor, peço que perdoes a iniquidade do teu servo, pois agi com muita insensatez.”
Na manhã seguinte, o profeta Gade, homem de Deus, foi enviado ao rei com uma mensagem do Senhor. Gade disse a Davi: “Assim diz o Senhor: Eu te ofereço três opções. Escolha uma delas, e eu a cumprirei. Escolha entre três anos de fome, três meses de derrotas diante dos seus inimigos ou três dias da espada do Senhor, uma praga que devastará a terra, com o anjo do Senhor trazendo destruição por todo o Israel.”
Davi ficou angustiado com a escolha que precisava fazer. Ele respondeu a Gade: “Estou em grande angústia. Mas prefiro cair nas mãos do Senhor, pois a sua misericórdia é muito grande, do que cair nas mãos dos homens.” E assim, o Senhor enviou uma praga sobre Israel, e setenta mil homens do povo morreram. O anjo do Senhor estendeu a mão sobre Jerusalém para destruí-la, mas, no último momento, o Senhor se arrependeu e disse ao anjo: “Chega! Retira a tua mão.”
Nesse momento, Davi olhou para o céu e viu o anjo do Senhor parado entre a terra e o céu, com uma espada desembainhada na mão, apontada para Jerusalém. Ele e os anciãos de Israel, vestidos de pano de saco em sinal de luto, caíram com o rosto em terra. Davi clamou ao Senhor: “Fui eu que pequei e fiz o mal. Mas estas ovelhas, o que fizeram? Ó Senhor, meu Deus, que a tua mão caia sobre mim e sobre a casa do meu pai, mas não sobre o teu povo, para que não seja atingido pela praga.”
Então, o Senhor ordenou que Gade fosse novamente até Davi e dissesse: “Suba e construa um altar ao Senhor na eira de Araúna, o jebuseu.” Davi obedeceu imediatamente. Ele foi até Araúna, que estava debulhando trigo na eira, e disse a ele: “Dá-me este lugar para que eu construa um altar ao Senhor, para que a praga seja detida.” Araúna, reconhecendo a autoridade do rei, ofereceu o local de graça, junto com os bois para o holocausto e os trilhos para lenha. Mas Davi insistiu: “Não, eu pagarei o preço justo. Não oferecerei ao Senhor algo que não me custe nada.”
Davi pagou a Araúna seiscentos siclos de ouro pelo terreno e pelos animais. Ele construiu o altar e ofereceu holocaustos e ofertas de paz ao Senhor. O fogo do céu desceu e consumiu o sacrifício, e o Senhor ouviu a oração de Davi. A praga foi detida, e o anjo do Senhor guardou a sua espada.
Naquele lugar, Davi declarou: “Este será o local do templo do Senhor Deus e o altar de holocaustos para Israel.” E assim, a eira de Araúna se tornou um lugar sagrado, onde mais tarde o templo de Salomão seria construído.
Davi aprendeu uma lição valiosa naquele dia. Ele entendeu que a verdadeira força não está nos números ou no poder humano, mas na confiança e na obediência ao Senhor. A partir daquele momento, ele se dedicou ainda mais a buscar a face de Deus e a guiar o povo de Israel nos caminhos da justiça e da fé.
E assim, a história de Davi e o censo nos ensina sobre o perigo do orgulho, a importância do arrependimento e a infinita misericórdia de Deus, que sempre está disposto a perdoar aqueles que se voltam para Ele com um coração sincero.